sábado, 29 de dezembro de 2012

Peixe esquisito a boiar no mar dos Açores!


·         …Um peixe esquisito foi apanhado no canal entre flores e corvo (…) a boiar por volta das 11h da manhã!

·         … Foi encontrado ali junto ao Castelete do Calhau, Faial, no fim de Julho, na costa, um peixe que não faço ideia o que seja!

 

 

Argyropelecus hemigymnus

Fotografia cedida por Gilberto Machado

O que é estranho neste peixe? Será o nome pelo qual é conhecido? Será a morfologia fora do vulgar do peixe? Será ter dado à costa a boiar?

Realmente nada neste peixe é vulgar.

Este peixe é conhecido por pai-velho, peixe-machado ou peixe-machadinha, com o nome cientifico Argyropelecus hemigymnus, e Argyropelecus aculeatus pequeno predador (3-4 cm)  da profundidade que durante a noite sobe mais à superfície para se alimentar, regressando de dia ao seu habitat natural entre os 250 a 600 m de profundidade.

Realmente o nome vulgar de peixe-machado ou peixe-machadinha entende-se pela fisionomia do mesmo uma vez que a sua forma e a cor prateada lembra um pequeno machado. Quanto ou nome pai-velho há um notório esforço criativo da parte de quem o batizou com este nome.

Dado ser um peixe de profundidade, tem órgãos luminosos na zona da barriga que emite luz para se camuflar de outros predadores da profundidade (visto de baixo a luz que emite pela barriga confunde-se com a luz que vem da superfície). Os olhos são grandes, e posicionados na parte dianteira da cabeça, permitindo-lhe uma melhor visão estereoscópica e caçar as suas presas, em ambientes onde a luz escasseia. Dado ser um predador, tem uma boca bastante desenvolvida e dentes afiados capazes de aprisionar as suas vítimas.

Estes peixes vivem em águas profundas mas por vezes são transportados para águas mais superficiais, talvez por correntes fortes criadas pelos montes submarinos e encostas das ilhas. A sua bexiga-natatória expande e impede que voltem para as profundidades a que estão adaptados. Chegam à superfície moribundos, com a bexiga-natatória expandida (bucho de fora) e ficam de lado. Dado serem prateados (refletindo a luz do sol) acabam por ser presas fáceis para as aves marinhas.

 

Argyropelecus aculeatus

Fotografia cedida por Paulo Manes

Afinal este peixe não é assim tão estranho!
:-)
 

Referências:



Agradeço aos Professores João Gonçalves, Filipe Porteiro, pela ajuda na identificação dos exemplares e a Paulo Manes, e Gilberto Machado pela cedência das fotografias.
Carlos André Fonseca

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vinagreira, uma lesma flutuante


            A Aplysia fasciata, conhecida vulgarmente como vinagreira-negra, lebre-do-mar ou lesma do mar, é um gastrópode da família Aplysiidae. Estes gastrópodes deslocam-se sobre os fundos marinhos mas podem, também, ser vistos a nadar à superfície. Podemos encontrá-los nas águas superficiais até aos 25 m de profundidade. É uma espécie herbívora e não é vulgar aparecer nas águas açorianas contudo, nos últimos tempos têm dado à costa do Faial bastantes exemplares desta espécie.

            Em 2003 foram avistados vários exemplares desta espécie durante o mês de Junho. O primeiro avistamento realizado pelo Prof. Dr. João Gonçalves e pelo colega Gilberto ocorreu a 4 de Junho pelas 16h, Feteira. Numa faixa com cerca de 2 m de largura e 125 m de comprimento, observaram cerca de 200 exemplares de vinagreiras onde cerca de metade se encontravam mortas e secas no areal, outras estavam moribundas e, existiam ainda exemplares vivos. Para além dos exemplares foram, também, observadas 5 posturas destes animais.

            O segundo avistamento realizado pelo Prof. Dr. João Gonçalves e por um colega ocorreu a 5 de Junho pelas 9:30h nas Poças da Rainha, Feteira. Na primeira poça, avistaram 59 vinagreiras mortas, 91 vivas, 16 posturas e 18 molhos reprodutores com 3 a 4 indivíduos. Na segunda poça avistaram 80 vinagreiras mortas e 12 vivas na parte de cima da poça e, na parte mais funda da poça com ligação ao mar foram avistadas 15 vinagreiras vivas. Na terceira poça avistaram 96 vinagreiras mortas e outras 30 vivas. Na quarta poça, avistaram 11 exemplares desta espécie mortas e 43 vivas, muitas das vivas estavam agrupadas nas fissuras dos blocos que constituíam a poça. Na quinta poça, mais pequena que as anteriores, encontraram 37 vinagreiras mortas e a cheirar a podre e mais 4 moribundas. Numa sexta poça, meia seca, foram avistadas 49 vinagreiras mortas e 9 moribundas. Na sétima poça foram encontrados 51 exemplares mortos e 1 moribundo, tanto as mortas como a moribunda cheiravam a podre. Neste dia foram recolhidas várias vinagreiras para um balde de 12 L para depois serem pesadas e medidas nos laboratórios do DOP. Nos laboratórios do DOP foram medidas e pesadas 33 vinagreiras, o comprimento médio dos 33 exemplares foi de 17,65 cm enquanto que o seu peso húmido médio foi de 316,36 g.

            A 9 de Junho pelas 16h o Prof. Dr. João Gonçalves e o colega Victor Rosa avistaram, novamente, mais exemplares destes animais Neste dia os avistamentos ocorreram no porto da Feteira, onde foram observados cerca de 50 indivíduos desta espécie mortos e mais de uma dezena de posturas misturadas com sargaço. Na praia a este do porto, também, existiam vários cadáveres de vinagreiras. Neste dia encontraram, também, vinagreiras nas poças da Feteira onde se pude ver vários cadáveres e algumas vinagreiras vivas e a nadarem, apesar da maioria se encontrarem mortas. No entanto, no dia 9 de Junho existiam bem menos vinagreiras nas poças de Feteira que no dia 5 de Junho.

            Em 2009, no dia 13 de Março foi encontrada uma vinagreira junto aos barcos que fazem a travessia para o Pico. A vinagreira foi apanhada por um funcionário da Transmaçor e levada para os laboratórios do DOP para ser identificada e pesada. Esta foi identificada como sendo uma Aplysia fasciata e o seu peso fresco era de 1388,3 g, sendo o exemplar depois devolvido ao mar. Durante a sua devolução ao mar, a vinagreira libertou tinta de cor púrpura.

 

Algumas curiosidades sobre esta espécie…

- As vinagreiras alimentam-se de qualquer tipo de algas;

            - Os exemplares juvenis apresentam uma coloração avermelhada. Já os adultos têm uma coloração que varia desde o verde ao castanho, sendo por vezes avermelhada ou negro-violeta;

            - São indivíduos que podem atingir os 40 cm de comprimento e pesar cerca de 2 Kg;

            - O nome comum deriva do líquido púrpura que lançam quando se sentem ameaçadas. Esta substância não é venenosa;

            - Os adultos são muitas vezes observados durante a Primavera pois esta é a época de acasalamento, no Verão os adultos chegam mesmo a formar aglomerações de vários indivíduos para acasalamento. Os juvenis são só observados por volta do Outono;

            - O corpo é mole e apresenta um grande pé e duas expansões globulares, também conhecidos como parapódios;

            - Os parapódios são utilizados como barbatanas quando estes animais nadam;

            - As vinagreiras são animais que podem ser encontrados em zonas de águas salobras e estuários, no ambiente marinho pelágico costeiro, em recifes de coral e costas rochosas;

            - As vinagreiras assemelham-se muito, em aparência, às lesmas e por vezes, também, são conhecidas como lesmas do mar. São as únicas lesmas que conseguem nadar.

 

Referências





Joana Botelho

A Nadine, os Açores e um caranguejo!

No dia 19 de Setembro de 2012, durante um passeio na praia de Porto Pim, enquanto a tempestade tropical Nadine deu breves minutos de tréguas, uma estudante do mestrado de Estudos Integrados dos Oceanos, Michelle Branã encontrou no areal uma espécie invulgar de caranguejo. O Albunea carabus, também conhecido por caranguejo-da-areia, é um crustáceo pouco avistado nas águas dos Açores. A sua presença é predominante do Oceano Atlântico-Este e do Mar Mediterrâneo, havendo também alguns avistamentos na costa de países africanos. A predileção destes invertebrados por ambientes sedimentares, caracterizados por elevado hidrodinamismo e turbidez, estará associada à sua distribuição e aos seus hábitos alimentares e comportamentais. O caranguejo-da-areia é um organismo bentónico que se enterra na areia e alimenta-se de matéria orgânica em suspensão na água e pode ser encontrado entre os 3 m e os 40 m de profundidade. As suas larvas superam 5 estágios de desenvolvimento planctónico (“zoea instar”), que é caracterizado pelo uso de apêndices torácicos para natação, antes de alcançar o estado juvenil. Estes animais necessitam de se libertar das suas carapaças de maneira a poderem aumentar o seu tamanho, num processo denominado por mudas. Tipicamente, este caranguejo possui o corpo segmentado com um par de apêndices em cada segmento, uma carapaça quitinosa quadrangular, com uma depressão côncava na zona posterior, pernas achatadas para escavar a areia e um par de antenas muito desenvolvidas.


O espécime encontrado pesava 14,5 g , tinha um comprimento total de 14,5 cm e a largura da carapaça era de 24,7 mm. Provavelmente era uma fêmea não ovada.


Mais recentemente, no mês de Novembro, um outro estudante do curso CET OpMar, Jonathan Biddle, encontrou também ele, na praia de Porto Pim, 3 animais desta mesma espécie, numa semana em que os Açores foi fustigado pelo estado do tempo com ventos fortes e agitação marítima. Tal poderá indiciar que a presença destes animais na costa dos Açores poderá estar associada a condições climatéricas particulares, nomeadamente ventos fortes e elevada agitação marítima, como as evidenciadas durante os dias em que foram encontrados os animais já mencionados.


Comprimento da carapaça (mm): 20,8
Comprimento máximo da carapaça,medida do lado esquerdo (mm): 27,2
Largura da carapaça (mm): 24,7
Comprimento total sem antenas, com abdómen estendido (mm): 51
Comprimento total com antenas, com abdómen estendido (cm): 14
Peso fresco (g): 14,5

O Albunea carabus foi pela primeira vez descrito no ano de 1758 por Carl Linneaus na 10º edição do Systema Naturae. é um crustáceo pertencente à ordem dos decápodes. Pertence a uma família de caranguejos com mais de 50 espécies identificadas e 9 espécies já extintas e que têm como principal característica a capacidade de se soterrarem na areia, criando um espaço apropriado para se abrigarem.



Mais informações:
Publicado por: Gonçalo Figueira

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Pyrosoma atlanticum, uma colónia deambulante

No dia 9 de novembro de 2012 pela manhã, a equipe de mergulhadores do Projeto Caulerpa realizou mais um dos habituais mergulhos para prospecção da alga invasora Caulerpa webbiana. O mergulho teve lugar junto ao Molhe Velho da Horta no sentido da Baía de Entre Montes, e foi lá que um dos mergulhadores, Luís Roque, achou este organismo que deambulava pela coluna de água. Sem saber do que se tratava, o mergulhador decidiu trazer o organismo para terra para ser posteriormente ser identificado.  


Mergulhadora da Equipe Caulerpa, Ana Besugo, com o Pyrosoma atlanticum na mão. 
(Foto: Frederico Gardigos)



Pyrosoma atlanticum e seus constituintes, os zoóides 
(Foto: Frederico Cargidos)


Pyrosoma atlanticum, evidenciando a sua forma tubular e podendo ver-se os zooóides na periferia. 
(Foto: Frederico Cargidos)

Algumas curiosidades:

Pyrosoma atlanticum, é uma colonia de forma cilíndrica que pode crescer até 60 cm de comprimento e 4-6 cm de largura e é constituída por organismos denominados zoóides que formam um tubo rígido que pode ser cor de rosa pálido, amarela ou azulada. Uma extremidade do tubo é mais estreita enquanto  a outra é aberta e possui um diafragma forte. A sua superfície exterior é do tipo gelatinosa. Este organismo alimenta-se maioritariamente de plâncton e outras partículas de alimento que são bombeados para as suas fendas branquiais através da ajuda de cílios. Pyrosoma atlanticum, é bioluminescente e pode gerar uma luz azul-esverdeada brilhante quando estimulado. Pode ser encontrado em águas temperadas em todos os oceanos do mundo, geralmente entre 50 ° N e 50 ° S. É mais abundante em profundidades abaixo de 250 m. As colónias são pelágicas e movem-se através da coluna de água. Efetuam migrações verticais diárias, subindo em direção à superfície ao início da noite e aos nascer do dia regressam a zonas mais profundas. Grandes colónias podem percorrer uma distância vertical de cerca de 760 m por dia, enquanto que as mais pequenas, apenas alguns milímetros de comprimento, percorrem distâncias verticais mais curtas  -90 m.     

Num dos laboratórios do DOP, a colónia de Pyrosoma atlanticum, foi medida, pesada e fotografada.

Peso húmido: 170,2 g                   Comprimento total: 23 cm                                Largura máxima: 6 cm

Pyrosoma atlanticum,depois de medido e pesado. 

Pyrosoma atlanticum, evidenciando os seus zoóides  


Ana Besugo

Para saber mais:

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Novo recorde de caça submarina?


Peixe cavalo: Alepisaurus ferox 

Captura fora do comum

Num final de tarde do mês passado (17 de julho), Pedro Freitas e um amigo, estavam a fazer caça submarina na zona de Trás-da-Serra (Ribeirinha -Faial) quando depararam com um grande peixe a meia água, tipo peixe espada, próximo de um cardume de bicudas, numa zona de grandes blocos de rocha que não tinha mais de 5-6 m de profundidade. Depois de arpoado, verificaram que o peixe era diferente de tudo o que conheciam, sobretudo pela sua musculatura pouco rija e pelos grandes dentes que tinha no céu da boca. Assim, contactaram o DOP (Universidade dos Açores) para saber do que se tratava.
Depois de identificado, verificou-se que se tratava de um peixe-cavalo, com o nome científico Alepisaurus ferox, que media 1,575 m de comprimento (furcal) e pesava 6,73 kg. O curioso desta captura, provavelmente um recorde da caça submarina, é que uma espécie oceânica cosmopolita de profundidade (meso- e  batipelágica:  vive até aos 1800 m de profundidade), cujo comprimento máximo conhecido é de 2,15 m e 9 kg de peso. Por vezes, exemplares desta espécie ocorrem em águas pouco profundas. A 13 de abril de 2005, um exemplar desta espécie também apareceu na Praia do Almoxarife (Faial) depois de ter saltado para o areal em perseguição de um cardume de cavalas (ver intraDOP). Geralmente não é utilizado para alimentação dada a pouca consistência da sua musculatura, típica de espécies de grande profundidade.
A doutoranda Diana Catarino, confirmou a identificação do exemplar e fez a sua biometria e análise de conteúdos estomacais. Foram retiradas várias fotos e medidas, nomeadamente da cabeça, mandíbula e do diâmetro do olho para estudos de morfometria. O conteúdo estomacal foi analisado e verificou-se que para além de vários peixes pau (Caprus aper) e um trombeteiro (Macroramphosus scolopax) continha ainda um peixe espada branco (Lepidopus caudatus) completamente inteiro com cerca de 50 cm de comprimento. Foi ainda retirado um pedaço de tecido muscular para genética para dar continuidade ao trabalho que se tem vindo a desenvolver para esta espécie e para comparação com outra espécie congénere (A. brevirostris). O exemplar foi congelado para posterior inclusão na coleção taxonómica de referência.
O peixe-cavalo está classificado em termos de conservação pela IUCN com o estatuto de pouco preocupante (“LC- least concern”).

Foto de peixe-cavalo (Alepisaurus ferox) apanhado na Ribeirinha em 17/07/2012. A fita métrica utilizada como escala tem 1,5 m de comprimento. Note-se que os lados, direito e esquerdo, da mandíbula estão separados em resultado do processo de captura. A barbatana dorsal ficou também danificada durante a captura.

Para saber mais:


terça-feira, 12 de junho de 2012

Camarões pistoleiros



Camarões pistoleiros!
Cuidado com os seus tiros!
Numa manhã do passado janeiro (28/01/2012), durante a baixa-mar, os Srs. Mário Oliveira e Dejalme Vargas, andavam a apanhar minhoca para a pesca na zona entre marés (intertidal) da costa do Pasteleiro, por baixo do forte de S. Sebastião (costa S da ilha do Faial), quando depararam com um par de estranhos camarões por baixo de uma pedra, que acabaram por recolher e entregar no semanas depois no DOP para saberem do que se tratava. Chamou-lhes a atenção uma pinça grande e deformada que ambos tinham.
Estes exemplares foram-nos entregues secos e só durante o passado mês foi possível dar a devida atenção a esta ocorrência. Para melhor serem identificados, hidrataram-se em água durante uma noite e procedeu-se à sua identificação e biometria básica (comprimento e pesagem) no dia seguinte (18/05/2012).
Tendo em conta o guia FAO (1987) verificou-se que se tratava de um par de pequenos camarões da espécie Alpheus dentipes (uma fêmea ovada e outro indivíduo de sexo não identificado) e uma pinça maior perdida por um terceiro indivíduo.

 Foto – 1. Par de camarões pistoleiros apanhados na costa do Pasteleiro (Faial) em 28/01/2012 juntamente com a pinça de outro indivíduo. O indivíduo da esquerda é uma fêmea ovada.

 Foto - 2. Pormenor da fêmea, apresentando alguns ovos já com olhos visíveis no abdómen (seta vermelha).
Foto – 3. Pormenor da pinça (quela) hipertrofiada de um terceiro camarão-pistoleiro apanhada no mesmo dia dos anteriores. Esta pinça é altamente especializada capaz de produzir sons e jatos de água de grande intensidade, que utiliza para defesa e para captura de presas.

 Estes camarões não têm nome vulgar em português, mas poderiam designar-se por camarões-pistoleiros, à semelhança do nome em inglês “pistol-shrimp” ou “snapping-shrimp”. Têm uma característica ímpar, com a pinça hipertrofiada, que parece deformada em comparação com as pinças habituais dos caranguejos e camarões, produzem um estalido sonoro muito intenso, acompanhado por um jato de água de tal intensidade, tal como se fosse um disparo de uma arma de fogo. A produção deste estalido, feito pelo fechar super-rápido da pinça, dura apenas 1 milésimo de segundo, e por um processo de cavitação produz um jato de água que atinge praticamente os 100 km/h, e com uma intensidade de som que ronda os 200 db. Esta energia acústica é de tal modo intensa que acaba por aumentar a temperatura da água do jato de água para valores muito elevados. O impacto deste jato e a onda sonora são suficientes para atordoar ou matar as pequenas presas que passam ao seu alcance e das quais se alimenta. Pessoas que têm camarões deste grupo em aquários descrevem a sensação pouco agradável de ser atingido por este jato como se fosse o impacto de um vulgar elástico de borracha, quando puxado e largado rapidamente.  
Este tipo de camarões estão geralmente escondidos debaixo de pedras, ou em buracos que os próprios escavam. Algumas das espécies têm associações com pequenos peixes gobídeos, que vivem no mesmo buraco. O peixe, com melhor visão, serve de alerta ao camarão contra predadores e por sua vez beneficia do abrigo na toca que o camarão faz, mantém e lhe serve de refúgio.
Nos Açores existem 3 espécies de camarões deste género Alpheus, todos registados na ilha do Faial, mas é de crer que ocorram em todas as restantes ilhas do Arquipélago.
Dados dos animais capturados:
                                                                               Fêmea                                 Indivíduo 2
Comprimento máximo (mm)*                                  29,1                                         33,7
Comprimento da carapaça (mm)                              9,1                                         10,3
Peso (em álcool) ( g)                                                 0,33                                          0,49
* Medidos com o corpo estendido e sem as antenas que se perderam.
Os animais guardaram-se em etanol a 96% para coleção e futuros estudos.
Para saber mais:

terça-feira, 5 de junho de 2012

Uma tartaruga no meio do canal Faial-Pico

No dia 1 de Junho de 2012, por volta das 13h, a embarcação José Azevedo pertencente ao Peter Café Sport, regressava já para a Horta depois de mais uma saída para Whale Whatching, quando a meio do canal Faial-Pico encontraram uma tartaruga da espécie Caretta caretta. Esta foi retirada da água pela tripulação e segundo eles, a muito custo, pois esta estava presa com alguns cabos à volta da sua carapaça. Já a bordo, a tartaruga foi trazida para terra e posteriormente foi chamada a aluna de Mestrado do DOP, Ana Besugo, que se encontra a fazer a sua tese sobre tartarugas marinhas. Chegada ao local, Marina da Horta, a Ana procedeu à verificação do estado de saúde da tartaruga e de seguida procedeu-se à recolha das medidas (comprimento e largura total da carapaça e peso), algumas fotografias, amostras dos organismos que vivem associados às tartarugas marinhas (denominados epibiontes) e por fim à sua marcação, que consiste na colocação de uma anilha metálica em cada barbatana anterior. 

Dados da tartaruga    

comprimento total (curvilíneo) da carapaça: 73,5 cm
largura total (curvilíneo) da carapaça: 66,5 cm
peso: 52,200 Kg
anilha barbatana direita: PA 278
anilha barbatana esquerda: PA 277


Foto: Ricardo Fernandes

Epibiontes:
Após análise em laboratório das amostras recolhidas quer da carapaça quer da zona do corte que a tartaruga apresentava do lado direito da carapaça, podê-se identificar:
Carapaça:
- 3 espécies de algas verdes
- 2 espécies de algas vermelhas
Zona do Corte:
- restos de pele morta com areia e restos de pequenos búzios, assim como de restos de cracas
- restos de espécies quer de algas vermelhas quer de algas verdes
- restos de poliquetas 

Colaboradores da recolha de dados, fotografias, transporte e libertação da tartaruga: Rui Correia, Ricardo Fernandes, João Reis, Catharina Pieper, Dani Fox e Jairo.


Foto: Rui Correia


Publicado por: Ana Besugo

quarta-feira, 16 de maio de 2012


Polvo com acne?


No dia 13/05/2012 o Sr. Fernando Rodrigues encontrou no areal da Fajã da Praia do Norte (costa NW da ilha do Faial) um polvo morto que lhe pareceu estranho. No dia seguinte o exemplar foi-nos trazido pelo Pedro Escobar para identificação.
Era uma fêmea de uma espécie de polvo pelágico, com o nome científico de Ocythoe tuberculata, que já devia estar morta há alguns dias e acabou por arrojar na referida praia. Tal como a maioria das espécies de polvos, tem 2 fiadas de ventosas nos braços, mas o manto nesta espécie é muito grande e quase esférico. É conhecido em inglês como “football pelagic octopus”, mas em português poderíamos designá-lo por “polvo de ventre rugoso“ em virtude dos numerosos tubérculos que têm na parte ventral do manto, que se assemelham a “borbulhas” (daí a referência ao acne). As funções destes tubérculos são desconhecidas. Esta fêmea tinha os braços incompletos, provavelmente comidos por outros animais depois de ter morrido. 
Desde 1991 que não observávamos um exemplar desta espécie nos Açores (foto 1), sendo esta a 6ª ocorrência registada nesta região, que curiosamente têm ocorrido quase sempre entre maio e julho.

Foto 1. Foto da fêmea do Ocythoe tuberculata de 1991 e que foi mantido vivo durante 1 dia num tanque de água existente na altura na Fábrica da balei de Porto Pim. Foto: Pedro Afonso.

Esta espécie foi descrita em 1814 pelo biólogo francês Constantine Rafinesque, que comeu o exemplar que descreveu, dizendo, numa tradução literal para português: “...este Ocythoe proporcionou uma refeição para muitos e é tão bom como os Octopus.
Trata-se de uma espécie de polvo robusta que nada permanentemente no mar aberto (não vive no fundo como as espécies mais comuns de polvos), tendo uma coloração típica (zona dorsal de cor azul violeta e parte ventral alaranjada/amarelada), sobretudo visível nos animais vivos. É uma espécie que vive nas águas superficiais, não ultrapassando os 200 m de profundidade (epipelágica), das zonas temperadas e quentes de todos os oceanos (cosmopolita).
Esta espécie tem algumas características ímpares para este tipo de animais: acentuado dimorfismo sexual (fêmeas são muito maiores que os machos – comprimento até 10x maiores; os machos por vezes habitam dentro de salpas pelágicas), têm um par de poros aquíferos na base do funil que comunicam com uma câmara interna na base da cabeça e parecem servir para ajudar na locomoção; têm uma “bexiga gasosa” para equilíbrio hidrostático e são conhecidos por serem a única espécie de polvo ovovivípara (os juvenis nascem diretamente dos ovidutos das fêmeas).
É uma espécie pouco estudada dado que as ocorrências são ocasionais, mas faz parte da dieta alimentar de várias espécies de lulas e peixes pelágicos (atuns, espadartes, etc.) e de mamíferos marinhos (focas e cetáceos).

Foto 2. Vista dorsal do exemplar de polvo pelágico Ocythoe tuberculata arrojado na Fajã da Praia do Norte (Faial) em 13/05/2012. Notem-se os braços incompletos e padrão azulado do animal que não é mais intenso por já estar morto há algum tempo quando foi fotografado. Foto: José Nuno Pereira.

Foto 3. Vista ventral do mesmo exemplar, vendo-se claramente se a rede de tubérculos ásperos que cobrem toda a parte ventral. O funil (F) é maior que nas outras espécies de polvos, vendo-se os poros ventrais (P). Notam-se ainda pequenas algas filamentosas agarradas à pele e difíceis de remover. Foto: José Nuno Pereira.


Foto 4. Vista lateral do mesmo exemplar, notando-se bem a transição da zona ventral com os tubérculos e a dorsal mais lisa e azulada. Notam-se ainda as cartilagens típicas (C) de fecho do manto e o olho (O) que está pouco visível em virtude de o animal já estar morto há algum tempo quando foi fotografado. Foto: José Nuno Pereira.



Até ao dia em que o observámos e fotografámos (14/05/2012), o polvo foi mantido refrigerado num saco plástico (evitando a desidratação). Após a sessão fotográfica e de amostragem biológica básica (pesar, medir, extracção de amostras de tecido) o exemplar foi preservado em formol a 10% para ser posteriormente incluído na colecção científica do DOP. Foram preservadas amostras de músculo para genética e o bico foi removido e conservado à parte.

Dados do exemplar (fêmea):
Peso húmido do exemplar (g):  1080,1                                                      
Medidas animal húmido (mm):
Comprimento dorsal manto: 155,0         Comprimento ventral manto: 142,0   
          Largura máxima cabeça: 81,0              Comprimento máximo funil (ventral): 71,0
Braços todos incompletos (comidos)

Medidas bico inferior - húmido (mm):
Comprimento dorsal (DL): 20,0 Comprimento capuz (UW): 11,6 Comprimento rostro (LRL): 9,0        


Colaboradores na recolha de dados e fotografias: Pedro Escobar (aluno CET OpMar) e José Nuno Pereira (IMAR). 



Para saber mais: